Os resultados da primeira volta das Presidenciais francesas de ontem, revelam três dados que me parecem particularmente relevantes.
Primeiro, e como publicou hoje o Le Monde, “perto de um votante em cada três” escolheu, nesta primeira volta, “um candidato hostil à mundialização ou à União Europeia”. Ora, isto é um reflexo demasiado preocupante, da saturação partidária que as democracias europeias estão a viver: ora socialistas, ora sociais democratas, ora centristas, ora conservadores, etc. Este jogo das cadeiras, ora na oposição, ora no poder, entre os partidos do regime, desgastou-os de tal forma que, para 29% dos votantes de ontem, a solução está na extrema direita e na extrema esquerda.
Segundo, apesar da singela vitória de Hollande, (tendo em conta que o número de eleitores aumentou de 2007 para 2012), a verdade é que os votos totais da esquerda são inferiores aos votos totais da direita, quando comparados com os resultados da há cinco anos. Mais, esta mesma vitória de Hollande não se deve certamente, à vontade dos eleitores franceses em dar a vitória ao socialista, mas sim, em dar a derrota a Sarkosy.
Terceiro, o resultado histórico da Front National deve preocupar-nos a todos enquanto europeus. Marine Le Pen deixou de lado o discurso racista e xenófobo do pai, adoptando um discurso mais populista, anti-Europa, anti-Alemanha, contrário ao projecto de construção europeia, e demasiado nacionalista. Esta foi a fórmula do sucesso. Uma fórmula perigosa que seduziu sobretudo um eleitorado operário e pouco esclarecido. Em boa verdade, o discurso da extrema direita foi igual ao dos comunistas de Jen-Luc Mélenchon.
Esta semana foi rica em acontecimentos ditos, europeus. Destaco dois em particular: por um lado a continuação da odisseia sobre a crise da dívida soberana grega, e, por outro lado, a tomada de posição de Mariano Rajoy em suavizar e renegociar as metas para o deficit espanhol em 2012.
Comecemos pela primeira questão. A Grécia entrou num ponto de não retorno económica, orçamental e socialmente. A dívida grega é assustadora e não será reduzida com mais dinheiro ou mais empréstimos internacionais. Estes bálsamos não retardarão aquilo que para muitos já é o desfecho desta novela. A Grécia já entrou tecnicamente em incumprimento tout court e, obviamente, os credores não tolerarão mais isto. Ora, a solução para o problema grego passa sobretudo pela vontade e concretização dos compromissos assumidos por Atenas. Mas uma concretização de facto! E, em boa verdade, a Grécia e os gregos têm sido irresponsáveis nesta matéria. A solução para o problema grego não passa só pela UE, pela CE, pelo FMI, etc., etc.. Senão vejamos: cobrar impostos na Grécia é anedótico, pois simplesmente não existe! Enquanto a Grécia não perceber que se não fizer por si não sairá do "buraco" em que está, não haverá solução alguma.
Mais, a escalada de violência nas ruas de Atenas está próxima de uma batalha campal entre civis e autoridades. A descrença no ideário europeu tal como existe hoje em dia, e, sobretudo na forma como o eixo Paris-Berlim tem liderado e conduzido esta crise poderá levar a médio prazo a uma situação de catástrofe política com consequências irreparáveis. E, francamente, mais vale deixar cair da Grécia (mesmo que temporariamente) do que deixar cair o projecto de uma Europa livre, democrática, próspera e em paz.
Quanto à segunda questão, ou seja, quanto ao caso espanhol. Bastaram dois meses para que o novo Governo de direita espanhol percebesse que a solução para as suas contas públicas não passava exclusivamente por austeridade atrás de austeridade. E bem. Ora, pergunto, em Portugal será que ninguém da maioria que suporta o actual Governo ainda não percebeu que não será só assim que resolveremos o problema do país? Não nego, muito pelo contrário, subscrevo que os acordos são para ser cumpridos. Mas, cumprir um acordo só porque foi assinado para que no fim o resultado seja totalmente diferente do pretendido é no mínimo masoquista. Já que temos por hábito aproveitar a “boleia” espanhola em muitas matérias, porque não aproveitar esta também e, não pedir mais dinheiro mas pedir mais tempo?
Portugal has met every demand from the European Union and the International Monetary Fund. It has cut wages and pensions, slashed public spending and raised taxes. Those steps have deepened its recession, making it even less able to repay its debts. When it received a bailout last May, Portugal’s ratio of debt to gross domestic product was 107 percent. By next year, it is expected to rise to 118 percent. That ratio will continue to rise so long as the economy shrinks. That is, indeed, the very definition of a vicious circle.
Meanwhile, shrinking demand and fears of a contagious collapse keep pushing more European countries toward the danger zone of unsustainable debt.
Why are Europe’s leaders so determined to deny reality? Chancellor Angela Merkel of Germany and President Nicolas Sarkozy of France, in particular, seem unable to admit that they got this wrong. They are still captivated by the illogical but seductive notion that every country can emulate Germany’s export-driven model without the decades of public investment and artificially low exchange rates that are crucial to Germany’s success.
Excelente. Vale a pena ler o Editorial de hoje do The New York Times.
Nunca tive em muito má conta Nicolas Sarkosy, mas, para quem diz ser o Presidente do "quinto país mais importante do Mundo", e de que não se pode ser candidato presidencial e Presidente em simultâneo, não deixa de recorrer à mais escandalosa demagogia quando cria a taxa "Robin Hood". Não passa de pura demagogia pré-eleitoral.
O irónico de tudo isto, é que o irónico Cameron saberá aproveitar muitíssimo bem esta triste e populista medida do governo francês.
Enquanto os iluminados franceses e alemães não perceberem que o ataque fiscal às empresas, o saque aos lucros empresariais, além de mais e mais barreiras fiscais às transacções financeiras, serão sinónimo de uma autêntica ruína económica que destruirá com o Euro.
A excessiva carga fiscal de alguns países europeus (como de resto, Portugal!) apenas afasta possíveis investimentos estrangeiros. Ora, é com o aumento e com a criação de mais impostos que o duo "Merkosy" pretende tornar o Euro, e a União Europeia um espaço económico atractivo e competitivo?
A resposta é simples: assim, não.
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