Para que não haja dúvidas, contra mim falo quando mal falo de futebol. Basta visitar o meu profile de facebook para constatar o tempo, a massa cizenta e o pouco bom senso que ainda me resta num desporto que nunca pratiquei exceptuando as "temporadas" na liga amadora da pedreira do N10 e dos torneios de futsal da faculdade.
O que se está a passar com o Leiria e com a Liga Portuguesa é o culminar de anos e anos de aflições, ameaças de greve, salários em atraso e pagamentos milagrosos. Chegou ao fim o crédito fácil, chegou ao fim o dinheiro fácil, chegou ao fim o tempo do futebol profissional. Durante anos fomos ensinados a respeitar a meticulosa gestão de activos - leia-se pessoas de carne e osso - levada a cabo pelos grandes clubes, pelas transferências milionárias, pelos anúncios da nike e por todo o brilho reluzente das novas e aparatosas chuteiras do Ronaldo que foram preenchendo o imaginário e as ilusões de milhões de fãs sedentos por mais uma contratação, por mais uma tournee asiática, pela entrada de um outro petromagnata no mundo do futebol. Agora resta-nos limpar os despojos de uma farra de milhares de milhões que continua em forte e despreocupada actividade por outros cantos do planeta.
Ao contrário do que reclama o sr. Envagelista, o sr. Figueiredo, recentemente empossado presidente da LPF, não actuou por questões burocráticas, mas porque sabe que assistindo a União de Leiria, este seria o primeiro de uma longa lista onde pontificam nomes de clubes como a Académica, o Setubal, o Guimarães, o Marítimo e por aí adiante a requererem ajuda. A LPF de um momento para o outro, começou a ter sinuosas semelhanças com o FMI, pronto para resgatar os mais pequenos mas incapaz de salvar os maiores.
A União de Leiria, e os pequenos clubes portugueses que para a mesma situação caminham, podem ser facilmente acusados de terem sido geridos por autênticos gangsters locais que se aproveitaram dos seus clubes. Não que a acusação seja de todo falsa, mas porque este não é um fenomeno tipicamente português. Basta olhar, para os clubes de nuestros hermanos e para a sua colossal divida à segurança social espanhola, para tocarem todos os sinais de alerta vermelho.
O modelo desmedido que a indústria do futebol utilizou, onde os grandes são cada vez maiores e os pequenos são cada vez mais pequenos, é uma autentica contradição. No final de contas é de um desporto e de competição que estamos a falar for god sake, eu não sei onde é que tinham todos a cabeça mas os grandes não podem apenas jogar entre si, ou podem?