A Internet assusta muita gente? Sim! Pode assustar ainda mais? Pois claro que pode.
Trabalhamos diariamente com a world wide web. Alguns de nós estamos ligados à rede 24 horas por dia, 7 dias por semana, pelos nossos smart phones. Muitos já passaram por eventos de caráter social combinados através da web e até aqui não estou particularmente preocupado.
A web de primeira geração nasceu em 1990 como um repositório de documentos e hiperligações. Pelo seu formato aberto, cada um de nós era livre (e ainda é) de colocar e descarregar material de interesse ou não. Quando surgiu o boom de utilizadores criaram-se os primeiros motores de pesquisa que nos permitiram aceder à informação de uma forma mais prática e empírica. Até aqui, tudo bem!
Em 1998 nasceu a web da colaboração social, a web dos conteúdos editáveis, a web de 2ª geração. A wikipedia foi (e ainda é) um excelente exemplo e um caso de sucesso. Nasceram também os primeiros resquícios de redes sociais que alguns de nós utilizámos. Nada a apontar.
Em 2000 aparece a web dos dados ou a web do free (mudei para presente). Juntamente com esta nova rede aparece um novo paradigma comercial. Muitas das grandes empresas, a operar neste regime, disponibilizam grande parte dos seus produtos gratuitamente (aqui refiro-me diretamente à Google, ao Youtube e ao Facebook mas existem mais exemplos). Como não é o paradigma comercial que me traz aqui; adianto-vos que a web dos dados é a ferramenta que permite fazer uma pesquisa e obter resultados diferentes em função do local da pesquisa. É a web que nos permite pré-visualizar páginas através de motores de busca ou visualizar vídeos a partir de uma página na internet. Aqui estou ligeiramente assustado porque deixei de saber fazer, não sei fazer nada em formato html a não ser “ver”. No entanto, cá me aguento.
É a web de 4ª geração que me deixa com dor de estômago. Esta é caracterizada pela inteligência artificial, sistema operativo e omnisciência. A inteligência artificial é uma extensão da modificação do resultado da pesquisa em função do local. É, por exemplo, o motor de busca saber o que pretendo em função da data e hora da pesquisa, do local (shopping, escola, empresa, cidade, etc..), velocidade de digitação dos carateres ou força que lhes aplico, tudo isto em perfeita integração com toda a informação e dados sobre mim que inevitavelmente publiquei na web.
O espírito crítico permite-me concluir que os algoritmos e bases de dados que suportam a web de 4ª geração vão muito para além da minha compreensão, ou seja, estou irremediavelmente desatualizado. Aqui aparece a primeira dor estômago. Terei e quererei utilizar uma coisa que não vou fazer a mínima ideia como funciona. Por outro lado, dada a complexidade dos algoritmos de integração, apenas poderá existir um grupo restrito de pessoas ou instituições que terão a Big Picture e isto fará com que se tornem extremamente poderosas. Está aqui a segunda dor de estômago. Mais ou menos, uma rede em formato on-line como esta já existente:
No entanto, não profetizo a desgraça. Sei que a sociedade pode ganhar muito com a web de 4ª geração mas estas minhas dores de estômago já ninguém as tira.
Antes de vos passar a mensagem que me trouxe hoje aqui devo fazer uma ressalva. Pensei bastante se haveria de escrever este artigo. Pensei porque corro o sério risco de cair no autoelogio. No entanto, acredito que a mensagem que pretendo partilhar convosco é mais importante que a minha cara lavada de pseudo-humildade, por isso, aqui vai:
Estou a um mês de terminar o meu doutoramento em Engenharia Civil mas como menino responsável fui enviando uns currículos. Mentira, enviei muitos… Em grosso modo enviei currículos para a totalidade do parque empresarial direta ou indiretamente ligado à construção civil (acreditem que é muita empresa). O desespero foi de tal forma grande que me levou a candidatar a empresas em insolvência (claro que sou um idiota). Juntamente com o doutoramento em Engenharia Civil seguem o mestrado e licenciatura na mesma área, um MBA em gestão de empresas, cursos em diversas instituições como a Universidade de Bauhaus, Universidade de Waterloo e Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porque nem só de cursos vive o Homem, acompanham-me nas competências Académicas a experiência na indústria em infraestruturas de transporte, barragens e investigação avaliada e reconhecida por instituições internacionais de prestígio. Como se não bastasse, guardo experiência na gestão de projetos, conceção de produto, inovação tecnológica e Marketing. E a partir de agora acaba o autoelogio…
Os currículos que enviei estavam cuidados com cartas de apresentação personalizadas que descreviam o que a empresa poderia ganhar com a minha contratação (como deve ser…). Na mesma carta explicava (dava a entender) que não exigia remuneração adicional, ou seja, aceitava as mesmas condições que um recém-licenciado assumindo que ainda tinha muito que aprender. Sabem qual foi o resultado da minha campanha? ZERO, NADA, um vazio absoluto. Para além das empresas que nem sequer responderam (que foram a maioria):
A justificação foi: “Não queremos órgãos de chefia mais novos que subordinados”. Mas e então…: “a progressão baseada no mérito?” “eu não me importo!”, “que ponham os miúdos a mandar nos velhotes como eu!”. A argumentação de nada me serviu.
Não me levem a mal mas tive de desistir de Portugal. Comecei então, desanimadamente, a enviar currículos para empresas lá fora. Passada uma semana, entraram em contacto comigo uma empresa Holandesa e outra Alemã. A Holandesa estava muito entusiasmada porque fui escuteiro e pratiquei desportos de equipa. Já a empresa Alemã perguntou-me quando poderia começar a trabalhar referindo que não podem dispensar alguém que trabalhe tão bem em equipa e que toque guitarra. É caso para perguntar o que ando eu fazer.
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