Meus amigos,
Apresento-vos uma ideia de negócio Portuguesa apresentada em Português num festival Espanhol. Seria muito bom que pudessem dar uma vista de olhos e se gostassem, votar!!! O share/partilha desta mensagem também apoia o jovem empreendedorismo.
Podem encontrar o vídeo neste link:
http://videos.redemprendia.org/Juventude-aos-Museus_v1379
Um abraço e obrigado.
A Internet assusta muita gente? Sim! Pode assustar ainda mais? Pois claro que pode.
Trabalhamos diariamente com a world wide web. Alguns de nós estamos ligados à rede 24 horas por dia, 7 dias por semana, pelos nossos smart phones. Muitos já passaram por eventos de caráter social combinados através da web e até aqui não estou particularmente preocupado.
A web de primeira geração nasceu em 1990 como um repositório de documentos e hiperligações. Pelo seu formato aberto, cada um de nós era livre (e ainda é) de colocar e descarregar material de interesse ou não. Quando surgiu o boom de utilizadores criaram-se os primeiros motores de pesquisa que nos permitiram aceder à informação de uma forma mais prática e empírica. Até aqui, tudo bem!
Em 1998 nasceu a web da colaboração social, a web dos conteúdos editáveis, a web de 2ª geração. A wikipedia foi (e ainda é) um excelente exemplo e um caso de sucesso. Nasceram também os primeiros resquícios de redes sociais que alguns de nós utilizámos. Nada a apontar.
Em 2000 aparece a web dos dados ou a web do free (mudei para presente). Juntamente com esta nova rede aparece um novo paradigma comercial. Muitas das grandes empresas, a operar neste regime, disponibilizam grande parte dos seus produtos gratuitamente (aqui refiro-me diretamente à Google, ao Youtube e ao Facebook mas existem mais exemplos). Como não é o paradigma comercial que me traz aqui; adianto-vos que a web dos dados é a ferramenta que permite fazer uma pesquisa e obter resultados diferentes em função do local da pesquisa. É a web que nos permite pré-visualizar páginas através de motores de busca ou visualizar vídeos a partir de uma página na internet. Aqui estou ligeiramente assustado porque deixei de saber fazer, não sei fazer nada em formato html a não ser “ver”. No entanto, cá me aguento.
É a web de 4ª geração que me deixa com dor de estômago. Esta é caracterizada pela inteligência artificial, sistema operativo e omnisciência. A inteligência artificial é uma extensão da modificação do resultado da pesquisa em função do local. É, por exemplo, o motor de busca saber o que pretendo em função da data e hora da pesquisa, do local (shopping, escola, empresa, cidade, etc..), velocidade de digitação dos carateres ou força que lhes aplico, tudo isto em perfeita integração com toda a informação e dados sobre mim que inevitavelmente publiquei na web.
O espírito crítico permite-me concluir que os algoritmos e bases de dados que suportam a web de 4ª geração vão muito para além da minha compreensão, ou seja, estou irremediavelmente desatualizado. Aqui aparece a primeira dor estômago. Terei e quererei utilizar uma coisa que não vou fazer a mínima ideia como funciona. Por outro lado, dada a complexidade dos algoritmos de integração, apenas poderá existir um grupo restrito de pessoas ou instituições que terão a Big Picture e isto fará com que se tornem extremamente poderosas. Está aqui a segunda dor de estômago. Mais ou menos, uma rede em formato on-line como esta já existente:
No entanto, não profetizo a desgraça. Sei que a sociedade pode ganhar muito com a web de 4ª geração mas estas minhas dores de estômago já ninguém as tira.
Antes de vos passar a mensagem que me trouxe hoje aqui devo fazer uma ressalva. Pensei bastante se haveria de escrever este artigo. Pensei porque corro o sério risco de cair no autoelogio. No entanto, acredito que a mensagem que pretendo partilhar convosco é mais importante que a minha cara lavada de pseudo-humildade, por isso, aqui vai:
Estou a um mês de terminar o meu doutoramento em Engenharia Civil mas como menino responsável fui enviando uns currículos. Mentira, enviei muitos… Em grosso modo enviei currículos para a totalidade do parque empresarial direta ou indiretamente ligado à construção civil (acreditem que é muita empresa). O desespero foi de tal forma grande que me levou a candidatar a empresas em insolvência (claro que sou um idiota). Juntamente com o doutoramento em Engenharia Civil seguem o mestrado e licenciatura na mesma área, um MBA em gestão de empresas, cursos em diversas instituições como a Universidade de Bauhaus, Universidade de Waterloo e Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porque nem só de cursos vive o Homem, acompanham-me nas competências Académicas a experiência na indústria em infraestruturas de transporte, barragens e investigação avaliada e reconhecida por instituições internacionais de prestígio. Como se não bastasse, guardo experiência na gestão de projetos, conceção de produto, inovação tecnológica e Marketing. E a partir de agora acaba o autoelogio…
Os currículos que enviei estavam cuidados com cartas de apresentação personalizadas que descreviam o que a empresa poderia ganhar com a minha contratação (como deve ser…). Na mesma carta explicava (dava a entender) que não exigia remuneração adicional, ou seja, aceitava as mesmas condições que um recém-licenciado assumindo que ainda tinha muito que aprender. Sabem qual foi o resultado da minha campanha? ZERO, NADA, um vazio absoluto. Para além das empresas que nem sequer responderam (que foram a maioria):
A justificação foi: “Não queremos órgãos de chefia mais novos que subordinados”. Mas e então…: “a progressão baseada no mérito?” “eu não me importo!”, “que ponham os miúdos a mandar nos velhotes como eu!”. A argumentação de nada me serviu.
Não me levem a mal mas tive de desistir de Portugal. Comecei então, desanimadamente, a enviar currículos para empresas lá fora. Passada uma semana, entraram em contacto comigo uma empresa Holandesa e outra Alemã. A Holandesa estava muito entusiasmada porque fui escuteiro e pratiquei desportos de equipa. Já a empresa Alemã perguntou-me quando poderia começar a trabalhar referindo que não podem dispensar alguém que trabalhe tão bem em equipa e que toque guitarra. É caso para perguntar o que ando eu fazer.
Diz-se que o capitalismo está voltado para a produção de comercializáveis. E a economia de serviços que a Europa adivinhou para Portugal?
Diz-se que o capitalismo objetiva o lucro. Qual lucro?
Diz-se que o capitalismo se sustenta na propriedade privada dos meios de produção. Sim sim, aqueles que compramos aos EUA, Alemanha, China e alguns países nórdicos.
Diz-se que o capitalismo se baseia no constante reinvestimento do capital produzido. Financiamento? Dívida? Dois leigos sinónimos com conotações bem distintas…
Diz-se que o capitalismo é fluxo, entradas e saídas. Hum… Dinheiro, pessoas, apenas vemos um sentido.
Mais considerações teríamos se mais pacientes fossemos para as ler.
Por tudo isto, será que alguma vez Portugal foi uma sociedade capitalista? Tenho dúvidas. De alguns países onde tive oportunidade de viver fica-me a sensação que Portugal é de facto um país pouco capitalista. Mais ainda, tenho a impressão de que não sabemos viver de uma forma livre, que não somos mentes tão abertas como deveríamos. Ora, numa altura em que se exortam os elogios de um povo e de uma nação, não devemos descurar o escrutínio dos nossos defeitos crónicos.
É fácil encontrar excertos de elogios fortes a Portugal mas também é simples o encontro de críticas devastadoras. Estou a lembrar-me do anúncio da Coca-cola que pinta o nosso país de paraíso como das agências de rating que o envolvem de lixo.
Parte do encontro com as nossas boas características passa por perceber os nossos defeitos e neste aspeto temos uma boa ajuda. Quer queiramos quer não, nós e os IGS (que juntos formamos os PIGS) somos arrepiantemente parecidos (sim, com os gregos também). Respeitando as devidas diferenças, todos fomos impérios, todos somos familiares e não lidamos bem com o risco. Gostamos de estabilidade nas nossas vidas e achamos que isso nos é devido, o tal emprego para a vida é um bom exemplo. Os poucos cidadãos do mundo que conheço com resquícios destas características são ex-colónias destes outrora impérios. Como sabemos, nenhum dos PIGS goza de saúde financeira e social. Assim, temos 4 países, em condições geográficas, climatéricas e sociais muito semelhantes, cheios de dificuldades. Este é o ponto positivo! Temos repetição e isto torna o diagnóstico do problema bem mais fácil. O que há em comum entre Portugal, Itália, Grécia e Espanha para que num dia prosperem e no outro não?
A resposta não é simples mas encontramos uma tendência. Nem sempre os PIGS foram assim. Na altura em que prosperavam, cada uma das condições do “diz-se que o capitalismo…” estava apurada e hoje em dia, nenhuma daquelas categorias se verifica. O que motivou? Poderia conjeturar qualquer coisa mas a verdade é que não tenho a certeza. No entanto, uma coisa sei; enquanto não formos livres não podemos ser capitalistas e não podemos ser livres enquanto não aceitarmos os riscos dessa liberdade. Por muito tempo sentimo-nos confortáveis com o paternalismo que nós próprios sufragámos e agora teremos de reaprender a ser livres… se tal nos for permitido pois a liberdade assusta quem quer proteção.
Resumo: No passado dia 30 de Maio de 2012, o presidente da Junta-de-freguesia de Valadares promoveu um ataque ao Neoliberalismo sob a alçada do pensamento. Diz quem sabe, que a Matemática só serve para dar aulas ou para servir as tendências Neoliberais.
Artur Gandra, licenciado em direito, advogado e publicador (em colunas de jornal) com atividade na rádio e ex-jornalista é um comunicador da era moderna. A sua atividade profissional e o seu imperativo de consciência fizeram com que, mais tarde, se dedicasse à vida política. Hoje em dia é Presidente da junta-de-freguesia de Valadares. Sob o ponto de vista ideológico assume-se como um homem de esquerda e acredita na família como base de educação. Estruturou toda a sua personalidade segundo os seus ascendentes e particularmente segundo seu avô, um médico republicano e intervencionista que acabou por não conhecer. Reza a história que seu avô combateu diretamente o regime do Estado Novo que o próprio Artur Gandra repugna. Apesar de nunca o ter conhecido considera o avô um exemplo a seguir.
A sua ideologia política é sustentada pelo seu curso de direito embora acredite que as licenciaturas nesta área estão demasiadamente vocacionadas para a política. A atividade de jornalismo aliada à experiencia politica fez com que se tornasse um comunicador exímio. Com o amadurecimento, a sua vertente política foi gradualmente passando para a esquerda. Acredita na cultura e sua absorção referindo que os livros são a grande ferramenta no caminho do saber.
Assume ainda que, o sistema neoliberal que governa todo o mundo ocidental, pelo contrário, não pretende redistribuir a cultura pondo em causa leis fundamentais da teoria económica como por exemplo a oferta e a procura.
Artur Gandra acredita no estado social e responsabiliza uma vez mais o Neoliberalismo pelo fim desse estado acusando de ser o principal responsável pela instauração da crise bancária (crise do subprime em 2008). “Não existe carência de bens nem monetária, é tudo uma invenção das 500 maiores fortunas do mundo”, adianta. Os interesses instalados querem fazer acreditar na carência para que os mesmos bens possam ser vendidos mais caros.
De forma brilhante Artur Gandra afirma que o marketing foi a pior disciplina jamais inventada, está ao serviço do Neoliberalismo, diz. No entanto, pode redimir-se e promover a divulgação de um mundo melhor através da informação. Não faz sentido que, para aumentar a produtividade se tenha de aumentar o trabalho e que o trabalho nunca tenha valido tão pouco como vale hoje em dia, ou seja, o trabalho de hoje não serve para nada, pois a riqueza que cria é virtual.
O conhecimento privilegiado de Artur Gandra leva-o a concluir que o Neoliberalismo deu uma facada no seu melhor amigo, o Capitalismo, porquê? A explicação não foi clara mas está associada com o fim dos partidos democratas-cristãos por essa Europa fora.
Dá ainda o exemplo da matemática e da televisão como fiéis servos das políticas neoliberais e defende que está na altura da televisão servir as pessoas dando-lhes, sem qualquer paternalismo, não a programação que o cidadão quer mas sim, a programação que o cidadão precisa. O que precisa a população? De conhecimento, mas sem matemática em exagero. Dar mais filosofia às crianças portuguesas é uma óbvia solução, aponta.
Artur Gandra é apologista de um estado forte que cobre impostos equilibrados mas que os distribua de forma correta e justa. Assume um ataque atual à classe média e acredita na redistribuição de dinheiro para esta classe, contrariando mais uma vez algumas das correntes económicas de maior eficiência. Um estado gestor é fundamental. Não acredita na má gestão e culpa a falta de seriedade para o insucesso empresas públicas.
Assume erros do estado social mas imputa-os novamente o Neoliberalismo, claro! Para terminar, Artur Gandra acredita que as pessoas precisam de identidade e que energias renováveis são uma balela. Como um verdadeiro socialista inteligente de direito, rejeita qualquer atividade que promova o enriquecimento não humanista. Matemática, Economia, Marketing e Energia são definitivamente coisas do demónio neoliberal para Artur Gandra, um homem bom. Pensar é urgente!
"We are living in perilous economic times. Turn on the TV news and you see the return of a crisis that never really went away. Greece on the brink; the survival of the Euro in question. Faced with this, I have a clear task: to keep Britain safe. Not to take the easy course - but the right course. Not to dodge responsibility for dealing with a debt crisis - but to lead our country through this to better times"
David Cameron
O projecto europeu não passa de um sonho antigo que se transformou numa enorme mentira presa por arames à custa de uma moeda moribunda. Não valerá a pena acabar já com esta gigantesca farsa?
Quanto tempo acham que vai passar até que Francois Hollande diga que as contas públicas estão pior do que imaginava e que afinal serão necessárias novas políticas de austeridade?
De um momento para o outro, Portugal inteiro passou a saber o que era o "Dumping".
Através de Assunção Cristas, o Governo quer aprovar uma nova lei para evitar promoções inesperadas.
Pergunto: mas a Ministra da Agricultura está agora ao serviço do tão aclamado “rumo ao Socialismo”?! Como é que alguém pode acusar este Governo de liberalismo ou sequer neo-liberalismo?!
Parece que afinal, este Governo segue mais a Escola de Moscovo do que a Escola de Chicago...
"Seguindo o romance de Cardoso Pires, "lapidado como um diamante" (a expressão é de Fernando Lopes e percebe-se o que ele quer dizer com isso) pelo argumento de Vasco Pulido Valente, o filme leva-nos para o Portugal de há 30 e poucos anos, em pleno Inverno salazarista. O romance de Cardoso Pires, escrito em 1968, era contemporâneo da acção, com uma aguda percepção do fim de um tempo. O filme, preservando isso, confirmando-o, está no entanto em posição de filmar também o que não mudou, o que não passou com o tempo.
Nesse sentido, servindo-se de pequenas pinceladas subtis acaba também por construir um retrato do Portugal rural, da sua burguesia, dos seus sistemas sociais e das relações de poder que nele se engendram - "mutatis mutandis", o microcosmos da Gafeira, lugar que vale por muitos outros lugares, terra onde para além do "engenheiro" Palma Bravo as figuras de maior destaque são o padre e o cacique local, continua a existir um pouco por todo o país. Quando muito, e é por isso que "O Delfim" alberga uma aura viscontiana, o "fim de um tempo" talvez seja sobretudo o tempo de uma transferência de poderes, que podemos pressentir na "corte" que o regedor (Alexandre de Sousa) faz ao "delfim" Palma Bravo. O cauteleiro (José Pinto), verdadeira "vox populi" do filme, abana a cabeça, como se percebesse tudo, ou que nem tudo muda necessariamente para melhor.
(...) O coração do filme não é esse, mas o fortíssimo, e melodramático, retrato do casal composto por Tomás da Palma Bravo (Rogério Samora) e Maria das Mercês (Alexandra Lencastre) - extraordinária dupla de personagens, magnífica dupla de actores. É por aí que apetece dizer que "O Delfim" é um filme de retratista, apostado em pintar as suas personagens em todas as suas cambiantes e contradições, deixando em suspenso um julgamento moral. Quem julga são os "outros", o cauteleiro ou a criada da pensão (Márcia Breia) onde se alberga a "observadora" (mais do que "narradora") personagem de Rui Morrison, ou quando muito a História."
Neste excerto da crítica de Luís Miguel Oliveira a O Delfim, extraímos o génio de Fernando Lopes. Um nome grande do "Cinema Novo" português. Morreu hoje aos 76 anos. Aqui fica a minha homenagem. E, "que caia a noite".
And, by the way, I'm proud to be capitalist.
A jornada de luta a que fomos assistindo ontem, (via Facebook, através de vídeos no YouTube, nos jornais, etc.), foi, majestosa. Não, não estou a falar das manifestações do 1º de Maio. Refiro-me obviamente ao ataque de consumidores às lojas Pingo Doce.
Um verdadeiro combate de titãs: não, não estou a referir-me ao número de pessoas que indignadas (mais com quem foi ao Pingo Doce, do que com os responsáveis políticos) foram para a rua manifestarem-se no âmbito do Dia Internacional do Trabalhador. Refiro-me obviamente ao pugilismo dentro das lojas Pingo Doce: as armas essas, não eram brancas ou de fogo; eram fraldas, nabos, bacalhau desfiado, papel higiénico ou espanadores.
O cenário parecia um de uma Albânia em estado de sítio, em pré guerra; ou então, o de uma Podgorica sedenta por provar o primeiro hamburger da capitalista McDonalds.
A mim pareceu-me genial a campanha: seja do ponto de vista dos consumidores, que compraram os mesmos produtos de sempre, a metade do preço; seja do ponto de vista do aproveitamento político na escolha da data.
A ida para a Holanda despertou certamente muita criatividade e imaginação (porque será?!) nesse “grande capitalista selvagem” que é o Soares do Santos. (Até já estou a imaginar o próximo Eixo do Mal a destilar raiva, ódio e veneno sobre o senhor).
A esquerda Supercor que só compra gourmet, serviu de “tromba” ao Jumbo e supermercados afins. Acusou o grupo Jerónimo Martins de “miséria humana”, de “terror capitalista e consumista”, de criar situações de pôr a pessoas umas contra as outras (“era só mais um peito de frango!!!”), etc. Pergunto, mas alguma daquelas “almas” que foi fazer compras ao Pingo Doce se queixou?! Não. Então porque é que os tão eruditos da gauche portuguesa se indignaram tanto?! Porque perderam espectadores nas manifestações do 1º de Maio?! Pois, é possível, mas meus caros, é a liberdade de mercado no seu melhor: um serão no Pingo Doce, ou uma “missa” na Alameda em Lisboa...
É um tique típico da esquerda: presumir as vontades reais das pessoas, mas, numa economia de mercado é assim, quem decide é o consumidor, e, neste caso a escolha foi mais que óbvia.
Houve quem quisesse vender, e houve quem quisesse comprar: um ponto de equilíbrio “sagrado” que ninguém deve, quanto a mim, contrariar.
Na ressaca deste grande Dia do Consumidor, arrisco a afirmar que a Claire Fontaine não voltaria a escrever “CAPITALISM KILLS LOVE”, mas sim CAPITALISM KILLS THE FIRST OF MAY.
O poder da imagem e a influência desta, na sociedade ocidental, tem-se tornado numa verdadeira obsessão.
Vivemos hoje, na ditadura dos “likes”.
Construímos uma aparência de imagem em torno de círculos sociais virtuais, e já não conseguimos viver doutra maneira, já que o tempo diário no Facebook, ocupa hoje um lugar cimeiro nos quotidianos de qualquer pessoa, em qualquer parte do Mundo.
Desta aparência de imagem, decorre uma aparência de conhecimento e de cultura, e isto sim, é preocupante.
Adoptamos o estilo “barba de um mês”, e vestimos uma camisola de gola alta preta, e já parecemos um intelectual de esquerda, discípulo do Louça. No entanto, nunca lemos Habermas ou Proudhon. Adoptamos o estilo “suíças/patilhas em triângulo até a boca”, e vestimos um blazer azul escuro, e já parecemos um brasonado falido. No entanto, não sabemos a ordem dos Reis de Portugal.
Este totalitarismos da imagem, tornou a actual geração jovem na mais bacoca dos últimos anos. Uma geração sem causas fundamentadas, sem propósitos maiores, sem rumo por vontade própria, mas sim, inconsciente.
Optámos pela embalagem o conteúdo, “fazemos porque os outros fazem”. Hoje, o medo na “exclusão do círculo social”, já não reside na ignorância intelectual e cultural, mas no medo em perder posição social em razão da imagem.
Triste, é o povo que nunca ouviu, leu, ou viu, os maiores da sua cultura.
O devaneio e a loucura da Presidente Argentina, Cristina Kirchner, parece que contagiou mais um Presidente sul americano. Desta vez, foi o socialista maoísta fora de tempo, Evo Morales, Presidente da Bolívia.
Parece que Hugo Chávez tinha razão quando afirmou que o cancro que muitos dos Presidentes de países da América do Sul têm, tem como causa, alguma conspiração do Governo dos EUA. Hoje até admito que sim, (não o cancro, mas a esquizofrenia!), mas certamente não foi orquestrado por Washington.
Evo Morales aprovou hoje um decreto onde determina a nacionalização da totalidade das acções que formam o pacote da sociedade de Rede Eléctrica Internacional, uma filial de uma empresa espanhola de energia.
Espantem-se: o senhor justifica este desrespeito pela propriedade privada, “como justa homenagem aos trabalhadores e ao povo boliviano que lutou pela recuperação dos recursos naturais e dos serviços básicos”.
Pior ainda, depois de anunciado o crime de roubo, passou à execução: mandou o comandante das Forças Armadas, Tito Gandarillas, invadir as instalações da empresa espanhola, exigindo que este assuma o controlo da administração.
Estes caudilhos, mascarados com roupagem típica, disfarçam-se entre os homens comuns para fingirem que estão no poder por motivos nobres. Evo Morales é um sinónimo de um político irresponsável que teima em fazer atrasar o desenvolvimento da Bolívia.
Há pouco mais de um ano, estive de férias na Bolívia e pude presenciar o horror que é viver num país assim: atrasado, altamente corrupto, e iletrado.
In the land of blood and honey é a longa-metragem em que Angelina Jolie se estreia como realizadora. Pensarão alguns (tal como eu o fiz), que desastre cinematográfico será esse?! Mais uma diva de Hollywood a aventurar-se na realização, e usar-se da sua fama enquanto actriz, simplesmente para vender?!
Bom, admito o preconceito estúpido, porque na verdade o filme está soberbo.
A película parte de uma história de amor entre uma mulher muçulmana e um oficial sérvio, (antes, durante, e no fim da guerra), para tratar de forma crua, sem adereços de um qualquer romantismo bacoco, a realidade tão contemporânea da Guerra dos Balcãs na Bósnia (1992-1995).
Um filme ultra realista, (com uso dos idiomas locais), com representações espantosas de dois desconhecidos: ele, um sérvio divido entre o amor por uma muçulmana e o dever militar e familiar; e ela, uma artista que vira escrava sexual num campo de concentração, e depois num cativeiro militar.
Num cenário de uma Sarajevo divida, destruída, mas com um charme eterno e imperdível. In the land of blood and honey, não esquece, a realidade das cerca de 20 mil mulheres muçulmanas que foram violadas durante a Guerra da Bósnia, naqueles que ficaram conhecidos como “campos de violação”. A descrição de uma ferida recente que matou milhares na Europa.
Jolie surpreendeu, e isso valeu-lhe o título de cidadã honorária de Sarajevo, nomeação que é atribuída anualmente a cidadãos estrangeiros que contribuam para a promoção da humanidade, democracia e tolerância naquele país, a Bósnia.
Numa notícia avançada hoje pelo Le Monde, Marine Le Pen, apela ao voto em branco e a uma abstenção em massa na segunda volta do próximo Domingo.
Não me espanta, aliás é completamente previsível esta “jogada”. Daqui a pouco mais de um mês, a França vai de novo a votos, agora para as legislativas, e claro, a Front National não vai querer “colar-se” a nenhum dos possíveis vencedores das Presidenciais de dia 6 de Maio, para assim conseguir potenciar ainda mais, o voto na extrema-direita. “Lava as mãos”, despe-se de qualquer responsabilidade que deve ser própria de alguém que teve 6.5 milhões de votos.
Uma “jogada” velha, e muito típica destes partidos populistas: ou são os vencedores “a solo”, ou ninguém fica com os seus louros, independentemente do desastre que isso possa criar.
Marine Le Pen não é destituída de cultura e de táctica políticas, e sabe que as promessas de Hollande serão uma catástrofe económica completa (a título de exemplo: baixar a idade da reforma; manter o horário laboral semanal francês como o mais baixo da União Europeia; criar mais de 60 mil postos de trabalho na função pública; etc.), por isso, prepara-se para que daqui a 5 anos possa voltar ao palco das Presidenciais como a candidata que “previu a ruína económica e social”, e com isso ganhar os louros da conjuntura.
A semana passada foi rica em acontecimentos muito preocupantes: o peso real da extrema-direita na Holanda, e o aumento do peso eleitoral da extrema-direita em França.
Ora, pensarmos que em 2012, (mais de meio século depois, do fim da 2ª Guerra Mundial), ainda há uns quantos tipos, (daqueles que rezam diariamente pela “alma” do “senhor do bigode”), que fazem cair governos, ou que representam cerca de um quinto da vontade eleitoral dos franceses, é algo preocupante e assustador.
O fantasma adormecido acordou, e a Europa não tem uma resposta de combate a estes fenómenos.
Pior, no próximo dia 6 de Maio, a Grécia vai a votos, e prevê-se que, somados, os partidos populistas ultra-nacionalistas dos extremos políticos, representem 60% da vontade dos gregos. Ora, ninguém acredita naturalmente que os gregos queiram ser governados por loucos histéricos de bigode. Pergunto, porque é que então, por toda a Europa, o papel real da extrema-direita tem crescido desta maneira?
A resposta é simples: os partidos ditos moderados, sejam eles conservadores, socialistas, sociais democratas ou democratas-cristãos, estão de tal forma absorvidos por uma agenda que poucos sabem explicar, que deixam esse papel para os partidos dos extremos.
Estes partidos dão voz, explorando, e usando os problemas reais das pessoas de forma utilitária e em proveito partidário. E é isto que os partidos moderados europeístas têm que combater: a distância cada vez maior que têm com as pessoas, que têm com o eleitorado.
A propósito do “questionário histórico cultural” que a TVI fez durante as comemorações do 25 de Abril na Assembleia da República impõem-se os seguintes comentários, ou melhor, desabafos:
Primeiro, um desinteresse e uma falta de conhecimento da História contemporânea de Portugal. Facto absolutamente assustador e vergonhoso para alguém que é Deputado da Nação;
Segundo, uma facilidade em sortear desculpas pela miserável cultura (ou mesmo falta dela, em todos os aspectos) que têm. Respondem de forma politicamente correcta, circular e para “bom ouvinte” gostar, mas, não saberem quem foi o último “Primeiro Ministro” (na altura Presidente do Conselho de Ministros) antes do 25 de Abril não honra sobretudo o lugar de destaque que ocupam;
Terceiro, os “percursos” daquelas amostras de políticos miniatura, não lhes dão mérito algum para se poderem sentar numa das 230 cadeiras da AR. Ou será que fazer carreira numa “jota” lhes dá esse estatuto?!
Mais, como é que se pode exigir uma educação e um ensino de excelência quando os próprios “representantes” jovens, dizem que o primeiro Primeiro Ministro de Portugal depois do 25 de Abril foi Vasco Lourenço?!
É triste e insultuoso tudo isto.
Para que não haja dúvidas, contra mim falo quando mal falo de futebol. Basta visitar o meu profile de facebook para constatar o tempo, a massa cizenta e o pouco bom senso que ainda me resta num desporto que nunca pratiquei exceptuando as "temporadas" na liga amadora da pedreira do N10 e dos torneios de futsal da faculdade.
O que se está a passar com o Leiria e com a Liga Portuguesa é o culminar de anos e anos de aflições, ameaças de greve, salários em atraso e pagamentos milagrosos. Chegou ao fim o crédito fácil, chegou ao fim o dinheiro fácil, chegou ao fim o tempo do futebol profissional. Durante anos fomos ensinados a respeitar a meticulosa gestão de activos - leia-se pessoas de carne e osso - levada a cabo pelos grandes clubes, pelas transferências milionárias, pelos anúncios da nike e por todo o brilho reluzente das novas e aparatosas chuteiras do Ronaldo que foram preenchendo o imaginário e as ilusões de milhões de fãs sedentos por mais uma contratação, por mais uma tournee asiática, pela entrada de um outro petromagnata no mundo do futebol. Agora resta-nos limpar os despojos de uma farra de milhares de milhões que continua em forte e despreocupada actividade por outros cantos do planeta.
Ao contrário do que reclama o sr. Envagelista, o sr. Figueiredo, recentemente empossado presidente da LPF, não actuou por questões burocráticas, mas porque sabe que assistindo a União de Leiria, este seria o primeiro de uma longa lista onde pontificam nomes de clubes como a Académica, o Setubal, o Guimarães, o Marítimo e por aí adiante a requererem ajuda. A LPF de um momento para o outro, começou a ter sinuosas semelhanças com o FMI, pronto para resgatar os mais pequenos mas incapaz de salvar os maiores.
A União de Leiria, e os pequenos clubes portugueses que para a mesma situação caminham, podem ser facilmente acusados de terem sido geridos por autênticos gangsters locais que se aproveitaram dos seus clubes. Não que a acusação seja de todo falsa, mas porque este não é um fenomeno tipicamente português. Basta olhar, para os clubes de nuestros hermanos e para a sua colossal divida à segurança social espanhola, para tocarem todos os sinais de alerta vermelho.
O modelo desmedido que a indústria do futebol utilizou, onde os grandes são cada vez maiores e os pequenos são cada vez mais pequenos, é uma autentica contradição. No final de contas é de um desporto e de competição que estamos a falar for god sake, eu não sei onde é que tinham todos a cabeça mas os grandes não podem apenas jogar entre si, ou podem?
Cristina Kirchner faz-me cada vez mais lembrar Salazar, e a sua vontade num isolacionismo gritante.
Também ela, sob a máxima do “orgulhosamente sós”, vai afundando cada mais a Argentina.
Esta “deriva populista” serve muito à sua sobrevivência política, e muito pouco à Argentina.
Depois do dossier das Malvinas, e do caso Repsol/YTF, só falta mesmo ver a senhora a gritar que “não chorem por ela”.
38 anos depois do fim da ditadura que teimava em não ter fim, e 36 anos depois de ter sido lançada a primeira pedra do Estado de Direito Democrático, com a aprovação da CRP de 1976, (independentemente do cunho demasiadamente socialista), fundado no respeito pela liberdade, pela dignidade da pessoa humana, pela pluralidade, pela propriedade privada, pela legalidade, pelo respeito pelos órgãos e instituições democraticamente eleitos, e pela soberania popular, encontramo-nos hoje à beira do desaire, desalentados, desconfiados, e sob um paradigma de um quase fatalismo social, indissociável daquilo que é ser português.
Confesso que tenho dificuldade em aceitar qualquer tipo de fatalismo, pois acredito no Homem que faz escolhas conscientes.
Se para alguns a “Política” é uma ciência (social – com tudo o que isso comporta de pouco científico), para mim é uma arte, a mais nobre de todas elas. A “Política” é a arte de pensar, de contrapor pontos de vista, de reflectir, de debater, de governar.
A “Política” confunde-se ela mesma com o Homem, e com o ser social que necessariamente este é. A “Política” não tem idade, e confunde-se ela mesma com a própria ideia de Humanidade. A “Política” é o prazer dos cultos e eruditos, que fazem dela o seu palco da vida. Mas a “Política” não se coaduna com aqueles que dela se servem exclusivamente em proveito próprio, movidos por propósitos fúteis, e que em nada dignificam a “Política”, antes a desacreditam perante as pessoas. Esses são os parasitas políticos, os micróbios do sistema, a razão do coma da “Política” lusa.
É um cliché afirmar que “os políticos não são todos os iguais”, e não. Mas estas maçãs podres do sistema, acompanhadas de uma retórica contagiante, de uma demagogia, e um populismo de “fazer chorar as pedras da calçada”, estão a corroer o sistema de tal modo, que se torna difícil distinguir o bom do mau. E, como um dia afirmou José Gil, “se não afastarmos agora o nevoeiro que ameaça novamente toldar o nosso olhar, poderá ser demasiado tarde quando nos apercebermos que, sem dar por isso, nos encurralaram num beco, por um período indeterminado”.
A culpa é nossa. A culpa é nossa porque em Democracia a escolha é nossa. Fomos nós que permitimos este estado de coisas. Contudo, há sempre tempo para mudar este paradigma, afinal não há fatalismo que vença a vontade humana.
Durante 38 anos, a “Política” portuguesa conviveu lado a lado com políticos, que numa ânsia e numa obsessão, muito para lá de maquiavélica, tudo fizeram para a manutenção do poder. E nós, não dissemos basta; optámos antes, por (con)viver com este mundo escorregadio de uma imoralidade assustadora.
Para aqueles, que tão bem Gil Vicente definiu, é a “lei do vale tudo”: desde chantagear, desde corromper, desde falsificar votos e alterar resultados eleitorais, desde agredir, desde mentir deliberada e reiteradamente, desde perseguir. Muitos estarão a pensar, “mas em que mundo é que este vive?”. Pois bem, este é o admirável mundo dos partidos políticos. E, como todos sabem, as ementas eleitorais são cozinhadas nos seio destas pequenas máfias, para que, as pessoas em dia de eleições vão lá votar. No seio desta gente pouco esclarecida, onde o conhecimento está condicionado às vontades dos dias, se vai escrevendo a “Política” lusa.
Há quem diga que “o poder corrompe”. Ora, o primeiro passo para combater e contrariar isso é, ter consciência disso, e rejeitar qualquer fatalismo a esse respeito.
Apesar da falta de idoneidade política e moral que caracteriza as Juventudes Partidárias, essas tão conhecidas “escolas de crime”, esses tão conhecidos “partidos políticos dos pequenitos”, ainda há esperança, que aqueles que se venham a dedicar à arte da “Política” num futuro não muito distante, façam melhor.
Eu acredito, que um dia consigamos contrariar a análise certeira e realista, que Jacques Amaury (sociólogo e filósofo francês, Professor na Universidade de Estrasburgo) fez recentemente a propósito da “Política” portuguesa, onde afirmou que, “a política lusa é um campo escorregadio onde os mais hábeis e corajosos penetram, já que os partidos cada vez mais desacreditados, funcionam essencialmente como agências de emprego que admitem os mais corruptos e incapazes, permitindo que com as alterações governativas permaneçam, transformando-se num enorme peso bruto e parasitário”.
Àqueles que me poderão acusar de um qualquer tipo de idealismo, eu relembro Mark Twain, quando afirmou um dia: “Não abandones as tuas ilusões. Sem elas podes continuar a existir, mas deixas de viver.
Aqui fica a minha homenagem ao homem e ao político que foi Miguel Portas, um homem para quem a liberdade era algo inesgotável, algo que partilho.
(Só para lembrar os mais esquecidos que em Agosto de 1975, o tão conhecido "Verão Quente", estivemos à beira de nos assemelharmos a regimes como o da Coreia do Norte ou de Cuba, onde a liberdade não existia nem existe.)
Já é típico, já não vivemos sem ele, já é clássico (se não mesmo conservador): o simbolismo político à volta das comemorações do 25 de Abril, e dos seus convidados “de Estado”.
Mário Soares, Manuel Alegre, e alguns ilustres da Associação 25 de Abril anunciaram que não vão participar nas comemorações oficiais do 38º aniversário da Revolução que derrubou o Estado Novo.
Os mesmos afirmam que este Governo e esta maioria (com todos os defeitos que tenha, e não são poucos: em crónicas anteriores já fui bastante crítico da política fiscal seguida pelo Governo de PPC, por exemplo), são contra os “valores de Abril”, que estão a seguir uma política contrária aos objectivos daqueles que levaram a Revolução a cabo, que os propósitos que este Governo e esta maioria preconizam, revelam um modelo de sociedade diferente daquela que aqueles defendem. Ora, e para relembrar os mais esquecidos como o Dr. Mário Soares, os três principais propósitos do 25 de Abril foram “D”emocratizar, “D”escolonizar e “D”esenvolver Portugal. Pergunto então: não vivemos numa Democracia? Não descolonizámos? Não estamos mais desenvolvidos do que há 38 anos? As respostas, mesmo para os mais esquecidos, são todas positivas: somos um Estado de Direito Democrático, sem colónias, e bem mais desenvolvido do que em 1974.
Este comportamento do ex-Presidente da República, Mário Soares, demonstra sobretudo duas coisas: por um lado um total desrespeito pela vontade popular, e pela soberania dos eleitores (aquilo por que ele tanto lutou!). Afinal, esta maioria foi sufragada, e eleita universal e livremente por todos os portugueses. Esta vontade maioritária, expressa no boletim de voto pode não ser a mesma de Mário Soares, mas foi a vontade esclarecida daqueles que votaram, e, como o próprio Soares sabe, a Democracia não vale só quando a esquerda ganha. Por outro lado, Mário Soares, (esse grande pai do socialismo português), envergonha o PS quando se demarca do acordo que os socialistas, (pela mão do seu “Grande Líder” José Sócrates), assinaram em Maio passado.
Finalmente, uma última nota sobre os comentários de alguns ilustres sobre o actual desrespeito pela Constituição. Meus senhores, uma Constituição, mais do que qualquer outra lei, não é, nem pode ser estática, inflexível e/ou agarrada a conceitos (ultra)passados. Uma Constituição deve ser antes sim, o reflexo do modelo de sociedade que, a sociedade de hoje pretende e anseia, e não a que sociedade dos anos 70 programou e detalhou ao pormenor. Agarrarmo-nos a este tipo de conceitos formais, é matarmos a própria ideia de Constituição e, sobretudo, perdermos mais uma geração. 25 de Abril e 25 de Novembro sempre, facismo nem quase comunismo, NUNCA MAIS!
Os resultados da primeira volta das Presidenciais francesas de ontem, revelam três dados que me parecem particularmente relevantes.
Primeiro, e como publicou hoje o Le Monde, “perto de um votante em cada três” escolheu, nesta primeira volta, “um candidato hostil à mundialização ou à União Europeia”. Ora, isto é um reflexo demasiado preocupante, da saturação partidária que as democracias europeias estão a viver: ora socialistas, ora sociais democratas, ora centristas, ora conservadores, etc. Este jogo das cadeiras, ora na oposição, ora no poder, entre os partidos do regime, desgastou-os de tal forma que, para 29% dos votantes de ontem, a solução está na extrema direita e na extrema esquerda.
Segundo, apesar da singela vitória de Hollande, (tendo em conta que o número de eleitores aumentou de 2007 para 2012), a verdade é que os votos totais da esquerda são inferiores aos votos totais da direita, quando comparados com os resultados da há cinco anos. Mais, esta mesma vitória de Hollande não se deve certamente, à vontade dos eleitores franceses em dar a vitória ao socialista, mas sim, em dar a derrota a Sarkosy.
Terceiro, o resultado histórico da Front National deve preocupar-nos a todos enquanto europeus. Marine Le Pen deixou de lado o discurso racista e xenófobo do pai, adoptando um discurso mais populista, anti-Europa, anti-Alemanha, contrário ao projecto de construção europeia, e demasiado nacionalista. Esta foi a fórmula do sucesso. Uma fórmula perigosa que seduziu sobretudo um eleitorado operário e pouco esclarecido. Em boa verdade, o discurso da extrema direita foi igual ao dos comunistas de Jen-Luc Mélenchon.
Foi com bastante humor que li a notícia relativa à falta de comparência da Associação 25 de Abril às comemorações da revolução. Digo isto, muito simplesmente, pois o argumento fundamental que utilizam é: "O poder político que actualmente governa Portugal configura um outro ciclo político que está contra o 25 de Abril, os seus ideais e os seus valores." Pois bem, no meu ponto de vista, um Governo que foi legítimamente eleito pela população, vem de encontro aos (meus) ideais do 25 de Abril. Um ideal de liberdade, pluralidade e que representa o fim de um regime autoritário. Aliás esquecem-se que nas comemorações do 25 de Abril, não é só o Governo (constituído por dois partidos) que vai estar presente, mas também toda a oposição (constituída por três partidos). Portanto gostaria de saber quais serão, na verdade, os ideias que a Associação 25 de Abril tanto reclama. Talvez o das nacionalizações? O das FP-25?
O que está aqui muito bem espelhado é o desrespeito pelo regime democrático e a frustração bem patente de não terem conseguido "construir o caminho para o socialismo" como realmente queriam.
Questiono-me o porquê de não terem tido uma posição semelhante com os Governos de Sócrates? Será que esse ciclo político estaria em sintonia com os príncipios da Asociação 25 de Abril? Assim sendo, alegro-me cada vez mais pelo 25 de Novembro de 1975, pois sair de um regime autoritário para entrar numa ditadura comunista, não obrigado.
O despejo do projecto Es.Col.A, no bairro da Fontinha, no Porto, está a dar muito que falar. Procurei ler as publicações da associação no seu blog, bem como os comunicados que a CMP foi fazendo sobre o processo, para procurar perceber o que afinal ali se passou (não sou adepto de palas, pelo que não me fio na "versão única" de qualquer dos protagonistas).
A leitura que eu faço da situação é a seguinte: em Abril de 2011, um grupo de pessoas decidiu ocupar o espaço de uma escola que se encontrava abandonado há 5 anos, pertencente à Câmara Municipal do Porto. Aí desenvolveu, em conjunto com a população da Fontinha, uma série de actividades de interesse cultural e social. Entretanto a CMP, tomando conhecimento de que um espaço seu havia sido ilegalmente ocupado, ordenou o despejo do Es.Col.A (na altura um grupo informal de pessoas), que entretanto foi suspenso, de forma a que por via do diálogo se procurassem soluções para o problema. Eventualmente o grupo ter-se-á formalizado e criado uma associação e terá sido proposto pela CMP um contrato de cedência do espaço, com uma renda simbólica de 30 euros, que terá sido rejeitado pelo Es.Col.A por, alegadamente, ter uma duração de apenas cerca de três meses. A associação recebeu então uma nova ordem de despejo e, tendo-se recusado a abandonar o espaço, obrigou à intervenção das forças policiais.
Como referi, não conheço o processo e não me fio na versão de nenhuma das partes. Acho de estranhar que o contrato proposto pela CMP tivesse uma duração de 3 meses: se, por um lado, isso demonstraria uma grande insensibilidade social por parte do Executivo, não percebo porque se daria ao trabalho de formalizar a cedência do espaço por um período tão pequeno, sem qualquer perspectiva de dar continuidade ao projecto social em questão. Qual seria o interesse da CMP em propôr semelhante contrato?
No entanto, independentemente da atitude da CMP, existe aqui, na minha modesta opinião, uma grande confusão conceptual. Um espaço público não é um espaço "de todos", no sentido em que qualquer um pode utilizá-lo a seu bel prazer, seja a destruí-lo, a melhorá-lo, a utilizá-lo para ensinar crianças a ler ou para o tráfico de droga. Um espaço público é propriedade do Estado, sendo este responsável pela sua gestão numa lógica de interesse público. Ninguém terá, assim, legitimidade para simplesmente tomar como seu um espaço público, seja com boas ou más intenções, seja o mesmo bem ou mal gerido pela entidade estatal a que pertence. Assim o Es.Col.A está, bem ou mal, numa situação perfeitamente ilegal. As regras são para se cumprir e argumentos com tiques anárquicos comos os que li no blog da associação não colam. Daí que o despejo em si não me choque minimamente. Já a destruição de todo o material que se encontrava no edifício foi uma atitude desnecessária e vergonhosa por parte de quem procedeu ao despejo, tendo sobretudo em conta os fins para os quais aquele material, apesar de tudo, era utilizado.
Assim, só me ocorre concluir o seguinte: aos senhores da CMP não ficava mal esclarecer, de uma vez por todas e de forma clara, se alguma vez tiveram verdadeiramente a pretensão de apoiar o projecto social em causa e que medidas tomou nesse sentido. Porque, a menos que o executivo tenha planos para o edifício em causa, que se encontrava abandonado, não faz qualquer sentido cortar as pernas a um projecto que, ao que parece, prestava um serviço de verdadeiro interesse público à população local. E a destruição do material que era usado com o propósito referido, e que não deve ter sido fácil de arranjar, foi absolutamente lamentável. Aos senhores do Es.Col.A ficava bem deixar de lado os chavões do costume, agora apimentados por uns pózinhos pró-anárquicos: não é por berrar mais alto e ao som de tambores que se tem mais ou menos razão. Mais vale apostar realmente no diálogo e na diplomacia para resolver uma situação deste tipo, uma vez que a ocupação de propriedade do Estado, por muito nobres que sejam as razões que a isso levem, não deixa de ser ilegal. E sim, vivemos num mundo civilizado que vê na figura do contrato uma forma de acautelar os interesses das partes que nele tomem parte. Dizer que "O Es.Col.A não precisa de contratos" e que se trata de "um espaço ocupado, por gentes da terra, moradores do bairro operário da Fontinha e pessoas que procuram sonhar mais do que seguir ordens" não me parece ser a forma mais inteligente de procurar manter em funcionamento este projecto social.
Marinho Pinto continua a vender entrevistas atrás de entrevistas, numa tentativa ensurdecedora de se manter nas manchetes dos jornais.
O discurso deste senhor faz-me sempre lembrar aquele ancestral ditado chinês que diz: “só recorre aos gritos quem não consegue triunfar pela razão”. De facto, Marinho Pinto é aquele típico utilitarista que nunca leu Bentham: usa-se do lugar de destaque público que ocupa para fins fúteis, vaidosos, e políticos. Marinho Pinto, assuma-se de vez como candidato presidencial e deixe de usar a Ordem dos Advogados, e os estudantes de Direito como bodes expiatórios para as suas motivações políticas. Ora, é esta a busílis da questão: o que é que move Marinho Pinto? Os supostos corruptos que nunca foram julgados? As supostas Faculdades de Direito que alegadamente vendem os cursos? Claro que não! Aquilo que move este senhor é a sua fome de poder e de protagonismo, e a vontade descontrolada em ir viver para Belém.
Contudo, vale a pena ainda voltar aos repetitivos argumentos daquele que se diz Bastonário da OA.
Na última entrevista que Marinho Pinto deu à RR, voltou a afirmar que a qualidade do ensino do Direito é péssima e que isso é da inteira responsabilidade das Faculdades de Direito, e do Estado que se demitiu de as regular. Pergunto: qual é a legitimidade (jurídica) para Marinho Pinto avaliar quem sabe ou não de Direito? Terá o Estado delegado essa competência, em plano de igualdade com as Universidades? Porque é que a OA avalia supostos conhecimentos que não ministrou nos cursos de Estágio? Como é que é possível que alguns correctores de exames da OA se tenham recusado a corrigir os ditos exames por não os saberem resolver?
Marinho Pinto, retenha isto: o mercado, como em qualquer profissão liberal, decide que sabe ou não de Direito, não o senhor!
Num ponto da discussão Marinho Pinto até tem alguma razão: as Faculdades de Direito estão pedagogicamente obsoletas e pouco adaptadas às novas realidades, e às novas exigências das profissões jurídicas, como a de Advogado, por exemplo. No entanto, a mudança que este senhor propõe é a de um retrocesso aos anos em que o dito cujo tirou o curso, e que, segundo consta, não era muito disciplinado.
Uma última inquietação: €1500 por estagiário, pelo curso ministrado pela OA?! E vai aumentar porque “não dá conta das despesas”?! Porque é que não mostra (realmente!) quanto é que o curso custa por estagiário?! Não estarão os estagiários a ser usados como um meio de financiamento para continuar a alimentar as loucuras deste senhor?!
A diferença essencial entre as figuras públicas e as figuras não públicas é que as segundas podem fazer tudo, e as primeiras não. Mais, há figuras públicas que não podendo fazer tudo, podem fazer mais do que outras figuras públicas. É nestas últimas que se enquadra o Rei Juan Carlos de Espanha.
A última polémica que envolve o monarca, tem que ver, como é sabido, com a sua última caçada ao Botswana, durante a qual partiu a bacia. Até aqui nada parece hostilizar muito as massas. Contudo, Juan Carlos é Presidente Honorário do World Wilde Fund for Nature, em português, Fundo Mundial da Natureza. E é aqui que tudo se complica, já que nem é um caso de viagens de lazer pagas pelos contribuintes espanhóis como avançou o El Mundo (a factura, essa, foi paga por Mohamed Eyad Kayali).
Ora, não será no mínimo estranho o Presidente do WWFFN, uma associação de defesa da Natureza, ir caçar elefantes para África?! Pelo menos exótico é, não há dúvida.
Exposto que está o caso, Juan Carlos encerra esta polémica com um “Lo siento mucho.”
Ora, Juan Carlos ou actua como um adolescente irresponsável que acha que basta um pedido de desculpas para encerrar a polémica, ou então, não tem de todo noção da posição que ocupa, o que para alguém com a sua idade só poderá revelar demência mental.
Na República um caso destes levaria no mínimo à demissão do seu titular, na Monarquia é mais um faits divers que se limita a preencher páginas da Hola. Resta uma última questão: será que Juan Carlos prefere que digam God save the King, or the elephants?
Nota de rodapé: não é de todo a protecção dos animais (afinal, eu sou um verdadeiro aficionado) o que está aqui em causa, mas a incoerência de El Rey.
Há dois dias fiquei intrigado com a saudação que o “monstro de Oslo” fez ao entrar no Tribunal norueguês que o está a julgar.
Está aquele órgão do Estado de Direito a discutir a sanidade ou a falta dela, daquele que matou por convicção dezenas de inocentes, à luz de algumas ideias que a Europa preferiu enterrar, e que formalmente adormeceram com os julgamentos de Nuremberga.
Breivik orquestrou, premeditou, e executou a chacina do último Verão. Sem dó nem piedade. Mais, não mostrou qualquer tipo de arrependimento, o que quanto a mim, deverá ser uma agravante da sua futura pena.
É curiosa a forma como a Europa tratou de Breivik: como um possível louco. Contrariamente se estivéssemos a julgar os terroristas do 11 de Setembro nunca pensaríamos na sua possível inimputabilidade. E porquê? Porque assumimos a priori que a sua ordem de valores é fundamentalista e distinta da nossa, e, sobretudo, que o principio da dignidade humana não tem par na sua ordem de valores. Mais, para a Europa é difícil compreender como é que “um dos seus” se coloca no mesmo plano que um qualquer terrorista da Al-Qaeda.
Arrogantemente afirmo que sim, que Breivik é um louco, um fanático e um fundamentalista, mas, por ser tudo isto não deixa de ser imputável só porque nós não conseguimos entender e compreender a barbárie por si praticada, admitindo o possível “coitadinho” que há em si.
De facto, não me espanta a forma como as autoridades norueguesas têm entendido e tratado deste assunto. É desde logo muito típica dos países nórdicos, aquela visão da culpa na formação da personalidade, no que ao Direito Penal diz respeito. Ora, e como afirma a melhor doutrina, esta visão da culpa na formação da personalidade poderá levar ao Direito Penal médico, onde através da medicina e da ciência, o Estado transformará e modificará aquilo que há de “defeituoso” e de “impuro” na personalidade do concreto indivíduo.
Breivik matou, à luz das mesmas convicções que aqueles terroristas sem nome, mataram a 11 de Setembro: contra o multiculturalismo, contra a Democracia, contra a globalização, contra a diversidade racial e cultural, contra tudo aquilo que as sociedades ocidentais representam hoje. Por isso, a forma como o devemos encarar deve ser a mesma como se de um não europeu se tratasse. A vítima não é Breivik mas todos aqueles que este matou; muito menos Breivik é vítima de si próprio, trata-se antes de um culposo e perigoso terrorista fundamentalista que matou por convicção, e por isso, deve ser condenado como adulto imputável que é.
(Nota final: é espantoso que no máximo em Julho sairá a sentença que condenará Breivik, ou seja, mais ou menos um ano depois da prática daquele acto terrorista. Se Breivik fosse julgado em Portugal, em quantos anos de julgamento apostariam?!)
A Esquerda tem duas características muito típicas: a primeira, é que é arrogante do ponto de vista cultural e político em não admitir mais nada se não o seu próprio ponto de vista; a segunda é que assume factos e coisas como verdades colectivas sem comprovação material.
Um exemplo disto, tem sido a recorrente e permanente crítica, que a Esquerda tem feito ao rumo que a Europa, enquanto espaço de valores, de modelo de sociedade, de perspectivas e objectivos (tendencialmente) comuns tem seguido. Em particular no que aos líderes europeus diz respeito, e às suas políticas de redução da despesa e divida públicas.
Ouve-se com frequência por aí, que há uma minoria europeia que quer impor o seu modelo democrático, político e social a uma maioria aparentemente enganada e defraudada. Urge a pergunta, mas algum dos líderes europeus chegou ao poder por um golpe de Estado?! Por um golpe militar?! Ou através de um outro qualquer processo de aquisição ilegítima e ilegal do poder?! Claro que não! Os líderes europeus foram eleitos democraticamente (ainda que na Grécia e em Itália não tenha sido estritamente assim), isto é, foram sufragados com as suas propostas e as suas ideias pelos respectivos eleitores. Convém não fantasiar sobre os resultados das eleições.
De repente parece que estes iluminados confundem a União Europeia com a Guiné-Bissau.
O Partido Socialista está saudoso de poder, e à deriva na oposição. Desta vez, as notícias vêm de lá longe: de Trás-os-Montes.
Se, formalmente, os parlamentares socialistas estão reunidos em Bragança para discutirem e debaterem o crescimento económico e o emprego; verdadeiramente, o Grupo Parlamentar do PS está reunido (qual missa de sétimo dia) para lembrar o legado do seu “querido líder”, José Sócrates.
Não pensem que estou a ser irónico, porque não é esse o meu propósito; mas, para um espectador atento e sedento de informação como eu, a verdade é que aquilo que se pode retirar destas jornadas parlamentares, são as saudades de Sócrates, os Xutos e Pontapés, e o “escritório de contabilidade” do Primeiro-Ministro. Interessante de facto. Aliás, eu não me lembraria de temas melhores para prolongar um fim de semana no campo, claro, e, como sempre, à custa dos dinheiros públicos e dos contribuintes.
O Partido Socialista está em profunda depressão. Depois de mais de uma década quase ininterruptamente no poder, os socialistas foram derrotados democraticamente e, claro está, já não se lembravam do que é ser (e fazer!) oposição.
António José Seguro é o elo mais fraco entre os actuais protagonistas partidários e, contra isso, prefere responder a comentários de comentadores políticos, do que propor alternativas políticas às propostas do actual Governo, como se espera do maior partido da oposição. Tudo isto claro, a bem da Democracia.
Na verdade, não são nem o Governo, nem o PSD ou o CDS-PP, nem mesmo o memorando de entendimento (que o PS assinou!) os maiores inimigos de Seguro, mas antes Sócrates e a sua “sombra”.
Para a História do Socialismo Português, António José Seguro será visto como um verdadeiro erro de casting, e sobretudo, como o pior Secretário-Geral da História do PS.
As saudades socialistas do poder, confundem-se com as saudades socialistas de José Sócrates, e isso, Seguro não consegue combater.
Em política, a avaliação dos governantes depende em primeira mão, da avaliação das oposições. E, as oposições em Portugal praticamente não existem. Portanto, tem este Governo que agradecer (também!) o seu nível de popularidade ao demérito das oposições. Ora, perante isto, encontro dois motivos óbvios: primeiro, a saturação partidária, isto é, há décadas que os partidos políticos são sempre os mesmos, para não falar de que aquilo que defendem e propõem para o país pouco tem mudado, e pouco se tem adaptado à actual conjuntura; segundo, os protagonistas fazem lembrar mais figuras de um qualquer museu de cera do que líderes partidários que são.
Contudo, e não querendo fazer um análise injusta, o Socialismo português está a sofrer as mesmas patologias que um certo Socialismo europeu, nomeadamente o espanhol, o francês e/ou o alemão. Esta deriva tem, quanto a mim, motivos claros e bastante particulares: primeiro, fazer oposição às medidas “contabilísticas” de combate à dívida pública criada pelo próprio Socialismo, é certamente uma tarefa difícil; segundo, o tempo das grandes figuras do Socialismo europeu acabou, e claro, deixar as lideranças dos partidos socialistas e sociais democratas, tout court, às pequenas figuras desses partidos, torna estas oposições muito fracas, e sobretudo, enfraquece a própria qualidade da Democracia europeia. Afinal o Socialismo faz falta, mas na oposição.
Se hoje o Socialismo critica aqueles a quem erradamente apelida de “neo-liberais de casino”, por estarem a reduzir o peso e a dimensão do Estado (Social), a verdade é que a causa da morte do “Estado Social”, foi o próprio Socialismo e a sua falta de rigor “contabilístico”, a sua falta de respeito e de visão no uso dos dinheiro dos contribuintes. Mais, esta arrogância cultural, (desde logo, muito típica da esquerda), que assume que o “Estado Social” (stricto sensu) é a única e melhor opção, e que tudo o que tente reduzir o papel do Estado na vida das pessoas e das empresas é obra de um “anticristo”, é algo que qualquer democrata liberal não pode admitir, nem pode aceitar sem debate.
A opinião pública é facilmente manipulável. Para detectar a demagogia e o populismo é preciso estar bem por dentro das matérias e, convenhamos, todos somos de alguma forma afectados pelo discurso fácil.
Marinho Pinto é um grande jornalista. Sabe o que afirmar e como o dizer para aparecer na manchete do dia seguinte. É abrutalhado e mal educado: diz tudo o que tem a dizer sem se preocupar com as consequências. A frontalidade fica-lhe bem, pena ser só de fachada! Já a falta de educação... não há fachada que a desculpe.
Fico espantado com a facilidade com que o discurso dele passa para as pessoas e a como que lhe dão razão. Esclarecendo: estudo Direito. O meu curso não é de três anos, mas sim de quatro. Ninguém nos oferece nada, nem notas, nem canudos. A culpa não é dos alunos. Quanto muito é dos professores. A maioria deles são da geração de Marinho Pinto. Com certeza alguns foram colegas dele em Coimbra. Mas é mais fácil culpar os alunos. E fazer exames que advogados com mais de vinte anos de prática se recusam a corrigir porque não o saberiam resolver.
Mais, este exame em que quase 60% dos advogados estagiários chumbaram não é feito logo após a sua saída da Faculdade, estamos a falar de advogados estagiários com mais de 2 anos de prática, com um Patrono, e após aulas administradas pela Ordem. Neste exame não está a ser posta à prova os conhecimentos adquiridos na licenciatura mas sim os do estágio. Marinho Pinto tanto poderia dizer que a culpa é da Universidade como da escola primária!
Marinho Pinto ainda não se apercebeu das consequência futuras da sua campanha difamatória. Os advogados, juízes e magistrados do futuro somos nós. A doutrina será escrita por Professores que estão agora a fazer o curso. A jurisprudência por juízes que entraram agora na Faculdade. Daqui a vinte anos o Dr. Marinho Pinto vai ser, certamente, acusado de difamação. Vai ser julgado pelos juízes que criticou e defendido por algum advogado saído desses cursos em que oferecem canudos... A Justiça portuguesa é descredibilizada todos os dias. Marinho Pinto está a dar a estocada final. Não critica as falhas de hoje, inventa as falhas de amanhã. E como temos um país de velhos do Restelo o futuro da Justiça já está ferido de morte. Agradeçam ao Bastonário da Ordem dos Advogados.
É, sem dúvida, cómico que ainda hoje se prolongue a notícia relativa à carga policial durante a greve geral. Mas é muito mais cómico que estejamos a chegar a um ponto, no qual os provocadores são absolvidos e os policias são alvos de processos. Aproveito que assim o seja, pois é da maneira que toco neste assunto para vos relatar uma situação que eu próprio presenciei, aquando da greve geral em Espanha.
Na minha opinião (que eu pensei ser partilhada pela totalidade das pessoas, mas pelos vistos não é) existe o direito à greve como também existe o direito ao trabalho, ou digamos à não-greve. Mas, quando vi um grupo de manifestantes em Santiago de Compostela, a descer uma rua e a obrigarem o dono de um café a fechá-lo, pois segundo eles próprios "Hoy es folga xeral, hay que pechar" (enquanto batiam com os paus das bandeiras no toldo do café) e, como se não bastasse, obrigarem os clientes do café a levantarem-se e a abandonarem o local, uma vez que "Na folga no se consome", apercebi-me que estava errado.
Afinal, qual é a realidade que queremos? Uma em que os Policias podem ser provocados, desrespeitados e com a sua vida posta em causa? Uma em que os manifestantes só têm direitos, nos quais podem sempre ultrapassar a liberdade do próximo? Constantemente se fala da falta de segurança, de crimes cada vez mais violentos e exige-se mais policiamento, no final de contas, a culpa é sempre da Polícia e o agente da lei tem um campo de acção igual ao de um cívil.
Hoje há Conselho Nacional do CDS-PP. Ao que parece, um dos temas em discussão será uma carta enviada ao Presidente do CN por um grupo de conselheiros, que pede uma "clarificação do posicionamento do grupo parlamentar do partido quanto a matérias fracturantes". Este grupo de conselheiros parece não aceitar, nem mesmo quando o partido concede liberdade de voto em assuntos fortemente marcados por um plano moral, que haja deputados que pensem pela sua própria cabeça e votem em conformidade com os princípios em que acreditam (e que sempre defenderam aberta e publicamente, note-se). Porquê esta súbita necessidade de unanimismos? É certo que o partido tem uma carta de princípios e afins, mas será toda a gente obrigada a identificar-se a 100% com TODAS as matérias, ainda para mais num partido que "alberga" diferentes correntes de pensamento e opinião?? Não me parece. Caso contrário também estarei aqui a mais.
Diz que, hoje mesmo, um deputado quebrou a disciplina de votoem relação à revisão do Código Laboral, apenas porque não concorda com que o 1º de Dezembro deixe de ser feriado. Será que o grupo de conselheiros estará indignadíssimo com a situação? É que esta faz-me bastante mais confusão.
Pelo final da tarde de ontem as redes sociais foram invadidas por grandes ondas de indignação, devido a uma fotografia tirada durante a greve geral, em que um agente da PSP parece estar a agredir à bastonada uma fotógrafa. Não tardaram os media, com o sencionalismo do costume, a relatar a brutalidade com que as forças policiais operaram, dando tempo de antena a alguns "manifestantes" e seleccionando as imagens mais "chocantes" dos acontecimentos.
Não tenho paciência para demagogias baratas e popularuchas. É evidente que muitas vezes a polícia opera com manifesto excesso de violência, cheguei já a testemunhar situações do género. Infelizmente, existem nas forças policiais vários energúmenos, como de resto existem em todos os ramos profissionais. Mas achar que isto não se aplica ao outro lado da "barricada" é estupidamente faccioso.
De acordo com os relatos de lojistas e outras testemhunhas, formaram-se grupos de manifestantes cujo único objectivo neste protesto era o de semear o caos, através de actos de vandalismo, ofensas verbais e violência gratuita, arremessando pedras, cadeiras e demais objectos contra as forças policiais. Ora, ainda de acordo com os mesmos relatos, os agentes da PSP mantiveram-se impávidos e serenos enquanto tal lhes foi possível. Não será então muito difícil de imaginar que, depois de insultados, agredidos, e estando em franca minoria num ambiente de tensão extrema, não será propriamente fácil manter um discernimento absolutamente racional, identificar minuciosamente as pessoas que atiraram pedras ou outro objecto qualquer e carregar apenas sobre elas. Neste tipo de ambiente é impossível tomar decisões absolutamente fundamentadas, daí que condene as acções exageradas da PSP, mas não os linche em praça pública passando um pano sobre as centenas de anormais que acham que "greve" é o direito a por em causa a ordem publica através de actos de vandalismo e violência. Condeno, isso sim, a violência em geral: todos os palhaços que vêm neste tipo de situações uma boa oportunidade para dar azo aos seus impulsos mais animalescos, estejam eles fardados ou trajem à civil.
Em Julho de 2011, aquando da formação e tomada de posse do actual Governo português, (sem surpresas), vimos a Cultura descer o seu estatuto governamental, passando de Ministério para Secretaria de Estado. O Governo justificou tal facto por razões de controlo e redução orçamentais.
Hoje, Geroulanos, Ministro da Cultura da Grécia, pronunciou-se sobre tal “descida de divisão” que a Cultura sofreu no Governo de Portugal.
Posto isto, cumpre destacar alguns factos. Primeiro facto: tanto Portugal como a Grécia estão sob a intervenção externa da IMF; segundo facto: tanto Portugal como a Grécia estão de “má saúde”, economicamente falando; terceiro facto: tanto Portugal como a Grécia assinaram acordos com organismos internacionais e europeus no sentido de redução das suas dívidas soberanas; quarto facto: Portugal não tem um Ministério da Cultura, contrariamente à Grécia.
Perguntamo-nos portanto, serão os gregos simplesmente irresponsáveis, ou mesmo loucos, em manterem um Ministério da Cultura quando o País está à beira da falência?! Claro que não.
A Cultura não passa a ser mais barata aos cofres do Estado só porque deixa de estar sob a tutela ministerial para passar a estar sob a tutela de uma Secretaria de Estado. É uma pura ficção, é uma verdadeira falácia dizer ou pensar isso. Ora, esta mudança formal é isso mesmo: uma mudança formal, ou seja, a Cultura não passou a gastar menos só porque agora está sob a tutela de um Secretário de Estado. O orçamento para a Cultura é definido na lei do Orçamento de Estado, tanto que há Secretarias de Estado que são mais caras aos contribuintes do que alguns Ministérios, portanto, repito, foi uma “descida de divisão” meramente formal.
Mais, esta alteração fora meramente simbólica, embelezada por um populismo gritante de uma suposta redução da despesa pública. Associar a existência de um Ministério da Cultura à “subsidio dependência” dos artistas e outros agentes culturais em relação ao Estado é um erro. Afinal, isso depende apenas da política cultural de um Governo e não se esse Governo tem ou não um Ministério da Cultura. A alteração não ocorreu de todo por razões económicas ou orçamentais, mas sim, por uma visão diferente da Cultura e que a Cultura deve ter num Governo.
É importante que se diga isto: este Governo, aprendeu muito com o Sócrates no que ao marketing político, e à gestão da imagem diz respeito: reduziram o número de Ministros e de Ministérios, fundiram algumas fundações, juntaram pastas num só Ministério, etc., etc. Contudo são meras reduções e extinções formais, porque ainda ninguém me explicou como é que um motorista de um Ministro ganha tanto como um Deputado...
Está visto que Cavaco Silva gosta de brindar os seus “concidadãos” com exemplos de má política, e, como bem disse Jerónimo de Sousa (é estranho até eu concordar com um comunista...), com exemplos de “pequena política”.
Cavaco Silva e José Sócrates são uma espécie de erros de casting da política portuguesa. Estão portanto bem um para o outro. O provincianismo do primeiro e a amostra de cosmopolitismo do segundo são como que duas faces da mesma moeda.
O divertido desta “polémica” é que o Sr. Presidente até vai dizendo umas verdades, (mérito aliás que ninguém lhe tira). Mas pergunto, só agora?!
Já José Sócrates foi viver para a rive gauche, mas, deixou por cá os seus cães de fila predilectos: Silva Pereira, José Lello e outros que tais.
A pequenez da política portuguesa actual é tão evidente e assustadora, que os pais fundadores do constitucionalismo, do liberalismo e do republicanismo, devem estar a pensar nas suas tumbas que, não foi pelos Cavacos Silva deste mundo que mataram o penúltimo Rei de Portugal...
Uma das maiores falácias nos calendários Portugueses, alem do carnaval, é o dia internacional da mulher. Nascido de uma revolução industrial, que faz emergir não só a afirmação das mulheres mas toda uma visão, um conceito de cidadão transcendente ao género, de direitos iguais e oportunidades. (em Portugal é consagrado pela constituição, a titulo de exemplo, no artigo 13 o principio da igualdade, ou nos artigos 58 e 59 Direitos do trabalho e dos trabalhadores.)
Contudo é na concomitância deste dia com a lei da Paridade que a falacia nasce. Paridade por si só sugere uma igualdade (a busca dessa igualdade em direitos, motiva as primeiras lutas que mais tarde fundamentam o dia da mulher), mas como pode ser isso possível quando esta lei sugere cortes nas subvenções ás campanhas se não se cumprir os 33.33% de pelo menos um dos sexos nas listas? 33.33% obrigatórios não me sugere paridade. A lei, claramente criada com o intuito de incluir mais mulheres na esfera politica, não pondera a igualdade dos sexos na capacidade de luta politica e civil, impondo, obrigatoriedades na constituição das listas propostas ao voto do comum cidadão, cidadão esse que não se distingue por género, como deveria acontecer nos cargos políticos.
Obviamente compreendo que a vida politica nacional nas ultimas décadas ou até seculos não tem incluído mulheres no cerne de decisão nacional, devido a uma herança histórica carregada de absolutismos, mas as mulheres actualmente são ouvidas no seu voto, alias, os cidadãos expressam-se no voto sendo homem ou mulher. Após 6 anos de lei em vigor e com resultados óbvios, não na paridade, mas na presença de mulheres na politica, Não deveriam as mulheres passar a conquistar esse lugar na politica em igualdade com o sexo oposto como vêm conquistando em todos os outros lugares da sociedade? Não deveria ser a escolha politica isenta desta espécie de condicionalismos? Como podemos falar em igualdade quando distinguimos géneros na representação politica e os tratamos por quotas?
Depreendo com objetividade que a maioria dos argumentos fundadores deste dia (para nós actualmente comercial) ainda não abraçam todos os recantos do globo, argumentos adormecidos nos recônditos da mente, pessoas a que ocidentalmente, por vezes de forma barbara, chamamos retrógrados, esbarrando em seculos de tradições, almejando um dia um consenso mental e apaziguador do ainda recente choque entre tradição e direitos, não só do homem ou da mulher mas humanos.
A Europa. Este velho continente, berço da Democracia, este espaço multicultural fascinante e tão inspirador para muitos ao longo dos séculos, está hoje de rastos. Velha e lenta, a Europa tem enfrentado as crises (económicas, financeiras, sociais e políticas) do nosso tempo depois das crises. Isto é, a Europa tem agido sempre em resposta e nunca em prevenção. Urge mudar este paradigma. Este é um primeiro problema.
Segundo problema. A Europa é hoje um barco à deriva que se tem permitido ao experimentalismo político-partidário sem excepção, e sem memória. Vive-se uma crise de lideranças europeias sem precedente, e, muito se deve à elasticidade ideológica (nalguns casos até, à ausência ideológica), dos líderes europeus e dos mesmos partidos políticos (os relevantes claro está, aqueles que formam o PPE e o PSE). É certo que, sem o distanciamento histórico e temporal suficientes para uma abordagem justa deste problema, acabamos por ser injustos, mas é o que é possível. E, sobre esta matéria esperemos para ver se a História nos dá ou não razão. Ora, a falta de memória da 2ª Guerra Mundial pode, por um lado, explicar o fosso e a enorme diferença entre aqueles líderes europeus que a tinham, e os actuais que não a têm.
Falemos concretamente da chanceler alemã Angela Merkel. É clara a diferença de liderança entre a Sra. e os anteriores líderes alemães (não contado claro com Gerhard Schroeder, também ele sem memória da Guerra) no que à Europa e à União Europeia diz respeito. Mais, a Sra. tem um contacto com a ideia de uma Europa solidária e unida muito recente. Mais recente até do que aquela que se tem em Portugal por exemplo. Afinal, Angela Merkel teve mais contacto em vida com aquilo que em lugar nenhum do Mundo será uma Democracia (RDA) do que com esta, e, consequentemente com uma ideia comum, e com um projecto comum para a Europa. A Alemanha de Angela Merkel é radicalmente distinta da Alemanha de Helmut Kohl, facto que, no limite até nos poderia parecer estranho já que tanto uma como o outro foram líderes do partido democrata-cristão alemão. E, quando afirmo isto, faço-o em particular no que à actual crise europeia diz respeito. Mais, a crise da liderança alemã da Europa é tão clara e óbvia que mesmo dentro do Governo Alemão há quem contrarie publicamente a Sra. Merkel. A gestão que a Alemanha tem feito do problema grego tem sido tão desastrosa como a situação orçamental grega. E isto é grave e, sobretudo, extremamente perigoso para a Democracia.
A Democracia só sobrevive a uma crise desta natureza se os actores políticos não estiverem feridos de legitimidade. Legitimidade essa que só estará assegurada com uma escolha livre e esclarecida daqueles que elegem aqueles que representam os cidadãos europeus. Ora, por mais eficácia imediatista que se pretenda com a escolha de tecnocratas para liderarem a Grécia e ou a Itália, a verdade é que, (e ainda que constitucionalmente possível/permitido), nenhum deles foi sufragado pelos respectivos eleitores, e isto mata a Democracia.
A História não se transforma, apenas se repete, adaptando-se à concreta conjuntura. Por isso, estes atropelos à Democracia, (mesmos que “bem intencionados”, e por motivos de salvação/sobrevivência económica de um País), matam-na. Pior, estes atropelos à Democracia permitem a emergência de populismos (ultra) nacionalistas de extrema direita e de extrema esquerda, que matarão no nosso tempo a Democracia como a conhecemos. Facto desde logo provado e demonstrado com os resultados eleitorais de diversa natureza de países como a Itália, a França, a Suécia, ou a Hungria. Dados preocupantes e muito perigosos. Exigem-se portanto soluções.
Se há elementos que a crise económica e financeira da Europa vieram destacar, é que o actual modelo institucional e formal europeu não dura mais tempo, sem importantes e estruturais reformas. O avanço para uma união monetária formalizado no inicio dos anos 90 em Maastricht foi um passo histórico na construção europeia, e isso já todos sabemos. O problema, é que uma união monetária sem uma união orçamental e (macro)económica real, e, sobretudo sem uma união política tout court, não passará de uma política em saco roto. A indefinição política da Europa é gritante, e por isso temos que passar à próxima fase da construção europeia: ao Federalismo.
Um Federalismo de tipo norte-americano bicameral onde, por um lado, estarão representados os Estados paritariamente (similar ao modelo do Senado dos E.U.A., onde cada Estado faz-se representar por cada dois senadores), e, por outro lado, onde estarão representadas as populações dos diversos Estados europeus proporcionalmente à sua dimensão. Uma União política real de tipo federal, não só evitaria futuros problemas como aquele que se vive actualmente, como devolveria à Europa o lugar cimeiro na cena internacional que deve ter. Não pensem que defendo, ou sequer pretendo, qualquer tipo de experimentalismo político, e tão pouco pretendo que se criem os “Estados Unidos da Europa” hoje. Mas há que aproveitar o momento de crise para começar um debate sério e prospectivo sobre o futuro político, em concreto um futuro federal para a Europa.
O leitor incauto perguntar-se-à sobre o que raio é um CRAT. Na busca desesperada para encontrar um termo que defina um movimento conservador, reaccionário, autoritário ou tradicionalista, resolvi por fim baixar os braços, desistir e entregar a um movimento sério e promissor uma temporária sigla pateta - C(onservador) R(eaccionário) A(utoritário) T(radicionalista).
Um movimento conservador baseia-se em 6 premissas:
1 - todo o edifício de pensamento conservador assenta na crença num Princípio Criador de todo o Universo, um Mestre Eterno com autoridade suprema sobre as leis materiais da Existência;
2 - a moralidade absoluta. Proveniente da experiência religiosa e social da comunidade, é inquestionavelmente a base da lei pública, e daí a necessidade da existência do Estado, que é o promotor principal do Bem Comum;
3 - o princípio fundamental da acção do Governo é balizado pelo princípio da subsidiaridade, presente na Doutrina Social da Igreja Católica, ou seja, a acção do aparelho burocrático supremo só se deve dar quando os organismos mais pequenos e pessoais (Família, Paróquia, Município, Empresa, Sindicato, Associação, etc.) falharem em providenciar à sociedade uma resposta eficaz que apazigúe a exigência de Paz Pública demandada pelo Bem Comum a toda a sociedade;
4 - o Estado deve preservar e respeitar a originalidade regional dos múltiplos centros de poder tradicionais. Não só se impõe um reforço do princípio da subsidiaridade, como um movimento CRAT propõe toda uma nova perspectiva sobre o problema da soberania e os limites do poder estatal - o poder estatal absoluto criado pela Revolução Francesa e pelo Demo-Liberalismo, reforçados pelos Nacionalismos e pelos Socialismos e agora pelo Mega-Estado Europeu são aqui postos em causa e em cheque. Toda uma nova orgânica presta-se aqui a ser construída;
5 - anti-individualismo. O limite pessoal em prol do bem da comunidade é mais valioso do que o esforço sobre-humano para vencer a todo o custo a competição que a Educação e a Mentalidade Moderna querem implementar nas mentalidades ocidentais. A Massificação e a Uniformidade são características Pós-Modernistas enquanto que a Heterogeneidade e a Unidade são os fundamentos da tradicional riqueza cultural e civilizacional Europeia.
6 - a procura por um equilíbrio sustentável entre a Liberdade pessoal e a liberdade das unidades tradicionais da sociedade. Este equilíbrio deve partir pela atribuição a cada indivíduo do máximo racional de liberdade. Esta Liberdade pauta-se pela felicidade individual e social, e não tem nada a ver com a suposta "liberdade para errar". No Erro não existe Liberdade, pois ele afasta a Dignidade e a Espiritualidade. No entanto, o princípio do máximo de liberdade racional não se prende a uma norma puritana ou a um Estado Totalitário Ultra-Moralista. Tal como afirma São Tomás de Aquino, o ser humano tem como dado inerente à sua existência a Culpa, o Pecado Original, e como tal, apesar de poder ser aperfeiçoado, não terá nunca a possibilidade de se tornar perfeito. Como tal, sendo o pecado parte natural do homem, tem o Estado obrigatoriamente de velar pelo seu bem mas ao mesmo tempo permitir que este possa conviver e aprender com os seus instintos pecadores, uma vez que esta é a sua natureza concedida por Deus. Um Estado que proíba totalmente o pecado é uma negação do Homem e da Redenção.
Posta esta exposição, pergunta-se o leitor "Não é pois suficiente a denominação de Conservador para um movimento que pretende ser, antes de tudo, conservador?"
Seria, não fosse a própria raiz da palavra inútil à vista da actualidade portuguesa. Já não há nada para conservar em Portugal. A Tradição ou morreu ou vai lutando quase desarmada contra um Estado poderosíssimo e uma Nova (a)Moralidade invencível e destrutiva. Os partidos conservadores portugueses são aqueles que, aceitando os preceitos da Revolução e do Materialismo, apenas pedem que se mantenha algum do status quo antigo, que lhes permita alguma da paz social mínima para manter alguma capacidade produtiva e as diferenças sociais que lhes agradam, não por sentido de dever patriótico mas sim por utilitarismo e vaidade pura. Um Movimento CRAT não é só conservador.
Nas Palavras de António Sardinha:
«Não somos conservadores - dada a passividade que a palavra ordinariamente traduz. Somos antes renovadores, com a energia e a agressividade de que as renovações se acompanham sempre. O nosso movimento é fundamentalmente um movimento de guerra. Destina-se a conquistar - e nunca a captar. Não nos importa, pois, que na exposição dos pontos de vista que preconizamos se encontrem aspectos que irritem a comodidade inerte dos que em aspirações moram connosco paredes-meias. É este o caso da Nobreza, reputada como um arcaísmo estéril em que só se comprazem vaidades espectaculosas. A culpa foi do Constitucionalismo que reduziu a Nobreza a um puro incidente decorativo, volvendo-a numa fonte de receita pingue para a Fazenda. Foge, cão, que te fazem barão!- chacoteava-se à volta de 1840. Mas para onde, se me fazem visconde?! E nas cadeiras da governança o cache-nez célebre do duque de Avila e Bolama ia esgotando os recursos do Estado em matéria de heráldica.»
E é precisamente esta peculiaridade que nos leva ao segundo elemento de um movimento CRAT, em análise no próximo texto: o Tradicionalismo.
Again: That Church (The Catholic Church) can have no right to be tolerated by the magistrate which is constituted upon such a bottom that all those who enter into it do thereby ipso facto deliver themselves up to the protection and service of another prince. For by this means the magistrate would give way to the settling of a foreign jurisdiction in his own country and suffer his own people to be listed, as it were, for soldiers against his own Government.
Se há uns anos Sarah Palin defendia as teorias criacionistas em detrimento das evolucionistas, hoje Rick Santorum afirma a sua oposição à laicidade do Estado, isto é, à separação entre o Estado e a Igreja.
Sem dúvida a política norte-americana stricto sensu, tem tanto de cómica como de assustadora. É mesmo maior o lobby do que uma qualquer base ideológica.
Recomendo ao Rick Santorum uma revisão de alguns filósofos dos séculos XVII e XVIII, em particular de John Locke e da sua “Carta sobre a tolerância”. Pode ser que aprenda alguma coisa.
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